Análise por Tiago Pereira

Comprei um telemóvel ontem e hoje já saiu a versão superior! Quem ainda não passou por uma situação semelhante? A velocidade de desenvolvimento dos produtos tem aumentado a um ritmo estonteante, quase nem dá tempo para explorar ao máximo as suas capacidades.

Acontece o mesmo com as revoluções industriais, que abrem espaço às revoluções da qualidade. Se olharmos para os dados, o período de cada revolução industrial tem uma tendência decrescente pressionando as empresas a planear a sua evolução o mais rapidamente possível. Claro está que tudo depende do mercado e visão estratégica da empresa, mas até as mais pequenas e as mais tradicionais trabalham a sua digitalização.

A quarta revolução da qualidade assenta em 3 áreas gerais: Tecnologias; Processos e Pessoas. Pressupõe o desenvolvimento de base de dados, de aplicações e de conexões entre elas permitindo a melhor integração dos sistemas de gestão e seus processos, fomentando uma melhor colaboração entre todos, culminando numa melhoria da cultura da Organização. No entanto, daquilo que é percetível da realidade portuguesa, as empresas investem na digitalização de forma unitária, não sendo visível um planeamento estratégico transversal onde conseguimos ver uma integração dos conceitos de Qualidade 4.0.

Sendo este um tema de grande relevância para as empresas portuguesas, a APQ lançou, durante o ano 2024, um desafio ao seu público-alvo no sentido de responderem a um questionário relacionado com esta temática.

Com as 32 respostas obtidas foi possível identificar que os inquiridos acreditam que os principais benefícios da implementação da Q4.0, de uma forma destacada, se encontram na Melhoria Operacional, tornando as organizações mais eficientes e eficazes, e o facto de permitir e incentivar à Tomada de Decisões Baseadas em Dados. No sentido inverso, poucos são aqueles que destacam a Personalização e Adaptação ou a Conformidade Regulatória, levando a identificar que a procura por desenvolvimento nesta área prende-se maioritariamente para efeitos de redução de custos.

No entanto, apesar dos benefícios visíveis, as barreiras identificadas em mais de 50% das respostas são a Inexistência de uma Estratégia de Digitalização e, diretamente ligado a isso, consideram que as empresas não têm as Competências Internas para a desenvolver. Desenvolver uma estratégia de Q4.0 não é desenvolver uma estratégia de Qualidade. É sim desenvolver uma estratégia de toda a Organização. A carência do cliente ou a definição estratégica da gestão de topo das nossas empresas estarão na origem do investimento para quebrar as barreiras identificadas.

Um estudo de 2019 da BCG, em colaboração com a ASQ e DGQ, dizia que apenas 16% das empresas (221 inquiridas, na maioria dos USA e Alemanha) tinham implementado Qualidade 4.0. Por comparação, nas 32 pessoas inquiridas pela APQ, 75% implementou, ou estão a planear, a implementação de uma estratégia digital. Ou seja, apenas 25%, apesar de identificar vantagens e benefícios, não implementou, nem tem interesse em implementar, uma estratégia digital. Podendo isto dar sinais de que, em diferente escala, durante 5 anos houve uma clara tendência de transformação nas organizações.

A digitalização pode parecer uma realidade apenas para as grandes empresas, mas o certo é que, por vezes, as mais pequenas, apesar de o acesso a recursos ser mais difícil, encontram na digitalização o caminho para se tornarem economicamente sustentáveis e ágeis. Quanto mais não seja, utilizando as ferramentas sem custos que quase todos temos acesso, até mesmo através dos tais telemóveis que se atropelam em atualizações.